Se era bom não devia ser para sempre?

Ana Flávia
3 min readJan 22, 2022

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Foto da Ana praticando yoga à beira mar
Crenças, filosofias e pessoas chegam em nossa vida, deixam um pouco de si que passa a nos integrar, e levam um pouco de nós

“Se era bom não devia ser para sempre?” é a pergunta que persistiu em mim. Nada de ruim havia acontecido, eu só tinha perdido o tesão mesmo. Aos poucos, entendi que não é porque algo foi bom que precisa continuar sendo. Que o que parecia vital e insubstituível no passado talvez perca o sentido no presente. Daí, haja coragem de escolher não mais nutrir um futuro. Dói. Mas quem falou que viver é indolor?

A yoga entrou em minha vida com regularidade há oito anos. Há quinze eu já flertava com ela esporadicamente. Muito mais do que exercício físico, o tempo e a experiência me mostraram que yoga é uma filosofia de vida. Internalizei muitos ensinamentos, kriyas, mitahara, que hoje são hábito pra mim.

A prática regular me trouxe mais percepção corporal, consciência das emoções e ferramentas para atravessar turbilhões na vida. Na nossa cultura ocidental que medicaliza tudo, eu preferia movimentar o corpo do que tomar comprimidos diante de pequenas dores. Em diversos momentos difíceis, vinha à minha mente: “o que seria de mim sem yoga?”

Sem que eu entendesse o porquê, o que era um prazer se tornou indiferente. Eu não tinha mais vontade de praticar os ásanas e pranayamas com a constância de antes. Estava no automático. Como assim? Não sei, só sei que foi assim. Eu, ativista à favor da yoga, tão identificada com a filosofia, me vi desorientada. Um vazio tomou conta. A yoga me constituía, era uma parte importante de mim.

Resisti bastante. Continuei praticando e me observando para entender se era passageiro, como uma noite entre dois dias. O corpo respondia, mas eu não estava mais presente ali. Senti profundamente que esse ciclo havia chegado ao fim. Ao menos por enquanto. Era muito difícil admitir que minhas verdades não eram tão certas, mas eu confiei na minha bússola interna.

Entendi que o “para sempre” é relativo. Mesmo o que foi bom. A vida é impermanente. Tudo muda o tempo todo, inclusive nossas certezas. Crenças, filosofias e pessoas chegam em nossa vida, deixam um pouco de si que passa a nos integrar, e levam um pouco de nós. Somos feitos de relações e daquilo que vivenciamos. Nossas vivências nos moldam. E ciclos se encerram.

A yoga é uma das vivências que me trouxe até aqui. Esteve em minha vida enquanto foi preciso. Sou imensamente grata às instrutoras Ju e Aline que guiaram minha caminhada, e aos colegas com quem compartilhei esses momentos. A yoga faz parte da minha história, é parte de quem sou aqui e agora. Celebro e, à medida que sigo o fluxo da vida, deixo-a ir.

Namastê.

OBS: aos que não conhecem a yoga, fica o convite a experimentá-la em toda sua integralidade.

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Ana Flávia

Escrevo pra mim desde criança, e agora também publicamente. Compartilho porque acredito que é na troca que crescemos e ampliamos a consciência. @anaflavia.vf